Um dia destes, li um comentário num blogue de um pretenso estudante de teologia que, apesar de se encontrar no último ano dos seus estudos, nunca frequentou nenhuma igreja local. Para mim isso é muito estranho. Já experimentei alguns revés e desapontamentos na Igreja, mas mesmo nesses dias sempre acreditei que a vontade de Deus era estar congregado na igreja local. Não concebo a "vida cristã normal" separada da comunhão dos santos. A Bíblia liga Cristo à Igreja porque são um mistério indissociável: "Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela (...) grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja." (Efésios 5:25;32). Para que servirá o estudo de teologia se ela não se traduzir em amor fraterno, por Deus e pelo próximo? Parece que são longínquos os tempos, em que a maior alegria de um nascido de novo era congregar-se numa igreja, ser baptizado, sujeitar-se a uma liderança, crescer e servir a Deus, dentro da sua congregação e dar bom testemunho fora. Certamente que existirão com certeza muitas queixas e razões contra certos líderes e contra alguns modelos de ser e fazer igreja, mas isso não invalida que a Igreja continue a ser a expressão prática do reino de Deus na terra. Continuo a achar que a igreja, na sua expressão local e na sua multiplicidade de erros, contradições, amores e desamores é o meio privilegiado, que Deus escolheu, para o nosso crescimento e amadurecimento espiritual. Continuo a crer que Cristo está a preparar e a santificar a "igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" para a apresentar a si mesmo. Continuo a crer na Igreja, apesar da igreja. "Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia" (Hebreus 10:24-25). Já tenho ouvido dizer que o sabor da água é todo igual. Não importa a marca ou a fonte, para muitos, a água sabe sempre a água. Mas para mim, o sabor das águas é sempre diferente. A Luso é diferente da Serra da Estrela e a Evian não é igual à Vitalis. As águas Pedras Salgadas são diferentes das Vidago e as Castello muito diferentes das Perrier. Isto para não falar do sabor da água viva. Não, não estou a falar de Medusas ou alforrecas, falo da água viva que sacia a sede espiritual. Basta provar uma gota desta água celestial que se percebe logo a diferença. Quem verdadeiramente prova a água viva que só Jesus tem e dá, fica plenamente satisfeito. É deveras importante a correlação gradativa que Deus estabeleceu para germinar a fé salvítica. Leiamos primeiro os versículos da Carta de Paulo aos Romanos (10:13-15): "Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!" Um indivíduo só será salvo se invocar o nome de Deus. Para invocar a Deus, tem que receber fé, a fé que vem dele para nele crer. Para alguém crer em Deus e ser salvo, precisa também de ouvir. Tem que ouvir aquele que prega a salvação de Deus, baseada na sua Palavra. Só prega o Evangelho eficazmente quem é obediente ao chamado de Deus. A mensagem do pregador enviado produz paz quando, ao anunciar as coisas boas de Deus, são aceites. Se por um lado é verdade que Deus pode salvar como e quem Ele quiser - a salvação é algo que só a Ele pertence -, o "processo normal" da fé salvítiva sobrevir, está na relação indissolúvel destes 4 verbos: pregar, ouvir, crer e invocar. Não pode haver invocação sem crença e não pode haver fé sem pregação da Palavra. Podemos dizer que na esfera da graça de Deus abundam sempre estas boas coisas. Os homens dos pergaminhos arrastavam-na pela rua. Vinha quase nua. Suja, ferida, cabisbaixa. Ferida. Eles traziam pedras nos bolsos para atirarem a ela e ao Mestre. Principalmente ao Mestre. Empurraram a pecadora para perto dele e fecharam o círculo dos juízes impolutos, prontos a derramar sangue pecador. O apedrejamento ia começar.
- Que dizes tu disto? – apontando eles o dedo indicador para a mulher, que soluçava prostrada na terra. Silêncio. O Mestre nada disse. Escrevia algo no pó da terra. Pensavam consigo que finalmente o tinham desmascarado. Apanharam-no. - Não respondes? Não vais cumprir com o que dizem os Pergaminhos? – insistiam eles, gritando. Pacientemente, O Mestre levantou-se. - Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro a atirar uma pedra contra ela. – inclinou-se novamente e continuou a escrever na terra. Silenciosamente os mais velhos começaram a sair. Depois os mais novos. Saíram todos. Ficou a mulher sozinha com O Mestre. - Ninguém te condenou? - Ninguém, Senhor. - Nem eu te condeno. – disse Ele ajudando-a a levantar-se pelo braço - Vai-te e não peques mais. A mulher, como que removendo todas as pedras da sua existência, renasceu. Saiu dali irradiando alegria. Sentia-se limpa, curada e perdoada. Curada. (Baseado em João 8:3-11) |
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January 2016
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